1. Arte e Tecnologia: antecedentes da net.art
Considera-se habitualmente a primeira metade do século XIX como o momento de conscientização da entrada num novo sistema de ação sobre a matéria, dominado pela idéia da máquina. Central nesta transformação foi o desenvolvimento de uma dicotomia entre trabalho e lazer, a partir da qual se estabeleceu a oposição irredutível entre indústria e arte. No entanto, nenhuma tentativa de interpretação sistemática das relações entre arte e máquina se manifestou até ao final do século XIX, excluindo-se, assim, à partida, a possibilidade de uma criação estética original, decorrente da atividade humana modificada pelo aparecimento da máquina. Admitia-se, portanto, que o desenvolvimento do maquinismo tinha introduzido modificações sem, no entanto, renovar no plano da ação e do pensamento e, consequentemente, na arte.
Esta visão foi substituída por uma nova atitude, visível na apoteose da máquina que foi a Exposição de Paris de 1890. Associando a idéia de beleza a algo de definitivo, imutável, os técnicos tornaram-se então criadores de uma outra forma de expressão, tradutora do seu recente triunfo sobre a matéria. Resolvia-se desta forma o conflito entre o Belo e o Útil, já que a beleza seria alcançada quando a forma se tornasse a expressão manifesta da função do objeto. Isto é, a qualidade plástica seria resultante da manifestação direta da potência da máquina. No quadro desta perspectiva, surgiu, pois, a crença de que a arte poderia conciliar-se com as sociedades modernas desde que apoiada em valores fornecidos pela lógica das técnicas. Tratava-se de definir as condições necessárias das novas formas de arte numa civilização em que os produtos da máquina constituiriam, de algum modo, um meio natural.
A mecanização é então encarada como um acontecimento sem precedentes na história da humanidade. A máquina substituiu soluções seculares por métodos que transformam a forma como os indivíduos intervêm sobre o meio. Para além desta nova forma de intervenção, a máquina deu ao ser humano a possibilidade de converter novas soluções intelectuais em ações concretas. Como resultado, assistiu-se a uma modificação gradual da sensibilidade dos indivíduos, podendo explicar-se assim a extensão das repercussões que a mecanização do mundo teve sobre a inteligência e a sensibilidade. Pode mesmo dizer-se que um novo tipo humano foi se formando gradualmente ao ritmo dos progressos técnicos, à medida que novos objetos foram sendo criados (Francastel, 2000).
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